terça-feira, 26 de janeiro de 2010
PÓLEN: Alimento Protéico para as Abelhas - Complemento Alimentar para o Homem*
16:28 |
Publicada por
Luis Guerreiro |
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por Augusta Carolina de Camargo Carmello Moreti
1- Importância do pólen para as plantas
Todos os organismos que se reproduzem sexualmente têm um componente feminino e um componente masculino, cada um responsável por metade dos genes. Portanto, as plantas têm dois veículos para transmitir seus genes para a próxima geração: o pólen e o óvulo. O pólen é o elemento fornecido pelas estruturas masculinas da flor.
Na natureza, o objetivo da reprodução cruzada é a geração ou manutenção da variabilidade genética das espécies, tanto entre, como dentro de populações, para que haja a possibilidade de continuidade da evolução. Em relação ao sistema reprodutivo das espécies vegetais, os estudos mostram a predominância da fecundação cruzada nas espécies de floresta tropical, o que só é possível com a transferência de grãos de pólen de uma flor para o óvulo de outra flor em indivíduos distintos. Em espécies de polinização cruzada, há um conflito entre a seleção natural, agindo para colocar grãos de pólen e óvulos em contato para a efetiva polinização, e agindo para manter as estruturas masculina e feminina separadas, na tentativa de evitar a autopolinização, como bloqueadora de variabilidade genética.
Plantas podem regular a autopolinização de numerosas maneiras. Um método evidente é a separação de sexos no espaço, onde pólen e óvulos são produzidos em indivíduos distintos. Outras estratégias são muito comuns na natureza para evitar a auto-polinização, como a dicogamia, onde ocorre a separação temporal da maturidade do pólen e do estigma, impedindo assim a auto-fertilização, a auto-incompatibilidade, onde a interação pólen-óvulo age no sentido de favorecer a fertilização do pólen advindo de outras plantas em detrimento do pólen oriundo do mesmo indivíduo e até polimorfismos, como a heterostilia, que impedem ou dificultam a auto-polinização. A taxa pólen-óvulos de fanerógamas é negativamente correlacionada com a taxa auto-fertilização.
Bell (1985, apud DOUST e DOUST 1988) descreve o resultado de uma série de experimentos consistentes onde conclui que a flor é primariamente um órgão masculino, “no sentido de que a maior parte da colocação das estruturas florais secundárias é designada para exportar pólen mais do que para a fertilização de óvulos”. A implicação desse trabalho é que a função feminina (fertilização de óvulos) é quase que plenamente satisfeita por uma ou duas visitas de insetos, enquanto que a efetiva dispersão do pólen (função masculina) requer visitas repetidas que podem ser asseguradas apenas pelo custo de significativo investimento em órgãos para atração do agente que será responsável pela transferência do grão-de-pólen de um indivíduo para outro daquela espécie.
Determinar a paternidade em plantas com certeza é muito difícil e depende de técnicas moleculares. Mulcahy (1979, apud DOUST e DOUST 1988) tem argumentado que o carpelo fechado das angiospermas, associado à constatação da polinização abundante por insetos, resulta em altos níveis de competição dos grãos de pólen para fecundar os óvulos. Essa competição teria um papel importante na rápida evolução das angiospermas.
2- Importância do pólen para as abelhas
Para muitos insetos, e especialmente para as abelhas, o pólen é a principal fonte de alimento não líquido. O pólen contém a maioria, se não todos, os nutrientes essenciais para a produção de geléia real, com a qual são nutridas as larvas de rainha e as larvas jovens de operárias. O pólen é a principal fonte de proteínas e lipídios para as larvas, talvez para todas as espécies e gêneros de Apidae, pois a quantidade de proteína e gordura no néctar é insignificante.
As operárias mais velhas usam a proteína diretamente do pólen, já as larvas e os adultos de rainha e as larvas jovens de ambos os sexos recebem geléia real, produzida pelas abelhas nutrizes, enriquecida com pólen.
Deste modo o pólen é essencial para o crescimento normal e o desenvolvimento de todos os indivíduos de uma colônia de abelhas, bem como, é essencial para a reprodução das colônias.
O corpo das abelhas é recoberto por finos pêlos nos quais o pólen adere quando as abelhas visitam as flores. As abelhas, em seguida, varrem o pólen de seus corpos com o auxílio das pernas e os acondicionam em depressões localizadas nos fêmures das pernas posteriores que recebem o nome de corbículas. Posteriormente, o pólen coletado é estocado em células dos quadros e pela ação de enzimas presentes na saliva das abelhas este pólen estocado sofre algumas transformações e recebe o nome de “pão de abelhas”.
A quantidade de pólen carregada pelas abelhas melíferas é maior do que a coletada por outros insetos. Abelhas dos gêneros Apis, Bombus e Colletes podem carregar cargas de pólen de 100-120mg, igual aproximadamente à metade do peso de seu corpo.
Nem todos os grãos de pólen têm igual valor nutritivo para as abelhas, pois eles diferem em sua composição química de planta para planta. Abelhas alimentadas com determinados tipos de pólen desenvolvem-se mais rapidamente do que com outros tipos, pois cada pólen tem uma quantidade diferente de vitaminas, proteínas, carboidratos, minerais, açúcares.
As abelhas conseguem sintetizar apenas a histidina e talvez a arginina, mas os demais aminoácidos essenciais ao desenvolvimento das abelhas são retirados do pólen.
O pólen é consumido pelas abelhas adultas, é fornecido às larvas de operárias e zangões, após o terceiro dia de desenvolvimento.
Para produzir cera e geléia real a abelha operária necessita também se alimentar de pólen o que propicia o bom desenvolvimento das glândulas produtoras destas substâncias.
3- Pólen nos produtos apícolas
As abelhas, ao coletarem o néctar das flores para a produção de mel, carregam também, involuntariamente ou não, o pólen, sendo este adicionado ao mel quando o néctar é regurgitado nos alvéolos. Desta maneira o pólen aparecerá no mel e em outros produtos da colméia como cera e própolis, constituindo-se em um importante indicador de sua origem geográfica, principalmente, e botânica.
A análise polínica permite identificar as principais fontes poliníferas utilizadas pelas abelhas, bem como os períodos de produção de pólen no campo e as possíveis épocas de carência. A análise polínica baseia-se no conhecimento prévio das características morfológicas dos grãos de pólen de espécies de plantas ou de grupos de plantas. Esta análise é feita por comparação do pólen presente nos produtos apícolas (mel, própolis, cera) (Barth, 1989, 1998, 1999), com aqueles referentes à flora da região, previamente catalogados.
Observa-se qualitativamente e quantitativamente os elementos microscópicos constantes nas amostras, caracterizando-os, identificando-os e agrupando-os segundo os seguintes critérios internacionais (LOUVEAUX et al., 1975).
Pólen dominante (PD)- mais de 45% do total de grãos de pólen contados
Pólen acessório (PA)- de 16 a 45%
Pólen isolado (PI)- até 15%, subdividido em:
Pólen isolado importante (PII): 3 a 15%
Pólen isolado ocasional (PIO): menos de 3%
Pólen acessório (PA)- de 16 a 45%
Pólen isolado (PI)- até 15%, subdividido em:
Pólen isolado importante (PII): 3 a 15%
Pólen isolado ocasional (PIO): menos de 3%
4- Composição do Pólen
O pólen contém basicamente 30% de água, 10 a 36% de proteínas, 20 a 40% de glucídeos, 1 a 20% de lipídios (gorduras) (mas usualmente não mais que 5%), 1 a 7% de matérias minerais (apresenta cálcio, cloro, cobre, ferro, magnésio, fósforo, potássio, silício, enxofre, alumínio, ferro, manganês, níquel, titânio e zinco), além de resinas, matérias corantes, vitaminas A, B, C, D, E, enzimas e coenzimas.
Os principais aminoácidos encontrados em sua composição são principalmente arginina, histidina, isoleucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano, valina e prolina (o mais abundante). São observados também carboidratos (cerca de 29%) que são formados por açúcares reduzidos e quantidades insignificantes de glicose, frutose, rafinose e amido.
Como o valor alimentar do pólen de diferentes fontes, varia grandemente (de 7,02% nos Pinus a 35,5% nas Palmaceas), uma mistura de diferentes fontes botânicas é necessária para propiciar uma dieta balanceada e é isso que a abelha costuma fazer de modo que, em média o pólen coletado por abelhas compara-se em conteúdo protéico com o dos feijões, ervilhas e lentilhas.
O pólen apresenta uma composição química altamente complexa e provavelmente até agora não totalmente elucidada, tendo condições de fornecer praticamente todas as substâncias indispensáveis ao bom funcionamento do organismo humano.
A utilização do pólen como complemento alimentar para o organismo humano exerce uma ação tripla sobre o mesmo pois além de atuar sobre o crescimento, regula as funções intestinais e o sistema nervoso, e finalmente fortifica o organismo de uma maneira geral.
O pólen coletado pelas abelhas e interceptado na entrada da colméia por armadilhas caça-pólen, passa apenas por uma desidratação, reduzindo a umidade para 2-8%, evitando assim o crescimento de fungos e outros microrganismos e por um processo de limpeza.
Durante todo o tempo de secagem deve-se utilizar um termômetro, para o controle de temperatura, a qual não deverá ultrapassar os 45ºC. Um período excessivamente longo de secagem à temperaturas mais elevadas provocará perda nas qualidades do pólen. Além disso, haverá alteração de cor e o produto ficará extremamente duro.
Por ser um produto higroscópico, absorvendo água com facilidade, a secagem do pólen deve ser feita em locais fechados , longe de torneiras abertas ou outra fontes de umidade. Terminada a secagem e enquanto aguarda a etapa seguinte do processamento, que é a limpeza, o pólen deve ser acondicionado em frascos de vidro secos e perfeitamente vedados.
O pólen, durante a sua coleta pode se contaminar com impurezas como, fragmentos de abelhas, resíduos vegetais, poeiras, própolis etc. Essas impurezas são retiradas manualmente durante o processo de limpeza, utilizando-se uma pinça, enquanto a própolis presente é facilmente retirada estendendo-se um pano de algodão sobre uma fina camada de pólen: a própolis fica aderida à superfície do pano. A limpeza deve ser efetuada em local bem iluminado, de maneira metódica, paciente e higiênica. Alguns tipos de separadores de sementes podem, com pequenas adaptações, se prestar muito bem a este serviço, embora já existem no mercado separadores de impurezas confeccionados especialmente para esse fim.
Após a limpeza o pólen está pronto para ser comercializado. Deve ser embalado de maneira a ficar protegido da umidade, ácaros, roedores, fungos e bactérias. Para estocagem são recomendados sacos plásticos, hermeticamente fechados, que podem ser guardados em geladeira, à temperatura conveniente para sua boa conservação. Para o consumo as melhores embalagens são potes de vidro de 100 ou 200g de capacidade, que podem permanecer à temperatura ambiente (15 - 20ºC) por longos períodos, desde que mantidos hermeticamente fechados.
O pólen normalmente é misturado a outros alimentos e/ou produtos apícolas para seu consumo.
* Artigo originalmente publicado no site do Instituto de Zootecnia/APTA/SAA - www.iz.sp.gov.br, em PDF (Portable Document Format).
* Artigo originalmente publicado no site do Instituto de Zootecnia/APTA/SAA - www.iz.sp.gov.br, em PDF (Portable Document Format).
Referências
BARTH, O.M.: O Pólen no Mel Brasileiro. Editora Luxor, Rio de Janeiro. 151 p., 1989.
BARTH, O.M.; LUZ, C.F.P. Melissopalynological data obtained from a mangrove area near to Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Apicultural Research 37 (2): 155-163, 1998.
BARTH, O.M.; DUTRA, V.M.L.; JUSTO, R.L. Análise polínica de algumas amostras de própolis do Brasil Meridional. Ciência Rural, Santa Maria 29: 663-667, 1999.
DOUST, J. L.; DOUST, L. L. Plant reprodutive ecology -patterns and strategies. New York: Oxford, University Press, 1988. p. 6-17.
LOUVEAUX, J; MAURIZIO, A; VORWOHL, G. Methods of melissopalynology. Bee World, 59: 139-157, 1978.
BARTH, O.M.; LUZ, C.F.P. Melissopalynological data obtained from a mangrove area near to Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Apicultural Research 37 (2): 155-163, 1998.
BARTH, O.M.; DUTRA, V.M.L.; JUSTO, R.L. Análise polínica de algumas amostras de própolis do Brasil Meridional. Ciência Rural, Santa Maria 29: 663-667, 1999.
DOUST, J. L.; DOUST, L. L. Plant reprodutive ecology -patterns and strategies. New York: Oxford, University Press, 1988. p. 6-17.
LOUVEAUX, J; MAURIZIO, A; VORWOHL, G. Methods of melissopalynology. Bee World, 59: 139-157, 1978.
Augusta Carolina de Camargo Carmello Moreti: possui graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (1976), mestrado em Entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1980) e doutorado em Ciências Biológicas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1990). Atualmente é pesquisadora científica do Instituto de Zootecnia. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Ecologia dos Animais Domésticos e Etologia, atuando principalmente nos seguintes temas: apis mellifera, mel, abelha africanizada, analises físico-químicos e abelhas africanizadas.
Contato: acmoreti@iz.sp.gov.br
Contato: acmoreti@iz.sp.gov.br
Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte
Dados para citação bibliográfica(ABNT):
MORETI, A.C.C.C. PÓLEN: Alimento protéico para as abelhas: Complemento alimentar para o homem. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_3/Polen/index.htm>. Acesso em: 26/1/2010
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